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MOVIMENTOS SOCIAIS NA REPÚBLICA VELHA

 

Das histórias de resistência da população, algumas foram memoráveis tanto no campo quanto na cidade, revelando a capacidade de articulação e atuação do povo brasileiro. No campo, as histórias de Canudos e do Contestado são exemplares e, na cidade, a Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, e a Greve Geral de 1917, na cidade de São Paulo, são casos notáveis da agitação popular. 

Canudos (1896-1897) 

A proclamação da República, como já visto, não alterou a vida da maioria dos brasileiros. A situação da maioria da população continuou marcada pela exclusão, pela miséria, em contraste com a riqueza e a opulência das oligarquias que concentravam terras e rendas. 

Nesse quadro de movimentação social, o mais destacado dos movimentos camponeses durante a República Velha foi o de Canudos (Bahia, 1896-1897), no arraial de Belo Monte. Organizado pelo Beato Antônio Maciel, conhecido por Antônio Conselheiro, estruturou-se à margem do rio Vaza-Barris, no interior da fazenda de Canudos. 

A vida de Antônio Conselheiro foi de grandes transformações. Seu pai era um pequeno fazendeiro que, perseguido pelos latifundiários, morreu cedo. Adiante, Antônio Maciel se casou, mas não demorou para que sua esposa o abandonasse. Como já havia participado de grupos religiosos vinculados à Igreja, passou a andar pelo sertão proferindo sermões. 

A comunidade do arraial de Belo Monte era identificada como a “terra da promissão”. Prosperou com a recuperação da terra e dos morros, acomodando cerca de 30 mil sertanejos, levando uma vida de rígida estrutura moral e religiosa, preparatória para o reino dos céus.

Tropas foram enviadas e a resistência dos sertanejos às sucessivas investidas do Exército desmoralizou a instituição. Somente ao final da quarta investida é que o arraial foi vencido. Nessa última investida, o governo empregou a mais brutal força contra a população do arraial, com metralhadoras e canhões. 

Esse era o fim da experiência comunitária dos sertanejos no interior da Bahia, mas a história não foi esquecida e tornou-se, ao longo da história do Brasil, uma bandeira na luta pela reforma agrária no país. 


Revolta da Vacina (1904) 

A cidade do Rio de Janeiro no início do século, capital da República, representava uma ameaça à saúde pública por apresentar elevados índices de doenças que se tornaram epidêmicas, como a peste bubônica, a febre amarelae a varíola. 

Na Presidência de Rodrigues Alves (1902-1906) e sob a administração municipal de Pereira Passos, foi promovida a urbanização e o saneamento da capital. Além do engenheiro-prefeito Pereira Passos, Osvaldo Cruz, médico sanitarista recém- -chegado da Europa.

Várias medidas sanitaristas foram aprovadas durante o governo Rodrigues Alves. A ideia era acabar com focos de mosquito, “desratizar” a cidade e vacinar a população. No entanto, a decisão que causou maior revolta popular foi a da vacinação obrigatória, medida aprovada pelo Congresso em 1904. 

A vacinação era feita no braço, por uma incisão feita com o auxílio de uma lanceta, instrumento cirúrgico de dois gumes, o que causava a indignação das pessoas, que teriam seus corpos violados por uma exigência governamental. 

No dia 13, domingo, houve novos confrontos na Praça Tiradentes, sede da Secretaria da Justiça, estendendo-se por várias regiões da cidade. Ocorreram assaltos a delegacias, quartéis e casas de armas. Cadetes, operários e prostitutas aderiram ao movimento. Chegou-se a decretar estado de sítio no Rio de Janeiro. 

Ao final da Revolta, os números revelaram o grau de violência: 30 mortos, 110 feridos e 461 deportações para o Acre, sem qualquer processo. Apesar da insatisfação popular, a campanha resultou num sucesso. As mortes, 1 000 no ano de 1902, baixaram para 48 em 1904. Em 1909, nenhuma vítima de febre amarela foi registrada na cidade do Rio de Janeiro.

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